legislativas 2019: a campanha política do livre nas redes sociais

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Sobre as Pessoas Autoras

Guilherme F. Alcobia
Mestrando em Ciências da Comunicação, com especialização em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, na NOVA FCSH. Licenciado em Ciências da Comunicação por esta mesma instituição. Faz parte da redação do website de cinema mais antigo de Portugal, o C7nema, desde fevereiro de 2019, e é cofundador da Palimpsesto. Além de cinema (e as suas implicações estéticas, políticas e filosóficas), a sua área de interesse é a sustentabilidade, em termos latos, a todos os níveis: ambiental, político, tecnológico, individual e social.

Maria Castanheira
Licenciada em Ciências da Comunicação pela NOVA FCSH, teve oportunidade de publicar na SIC Notícias e na Ler Devagar. É atualmente mestranda em Estudos sobre as Mulheres na mesma faculdade. Todas as disciplinas que questionam o Mundo e o Ser (e não poucas vezes deixam a pessoa à beira de uma crise existencial) são para si uma paixão, nomeadamente a Sociologia, a Psicologia e a Filosofia. Também a cultura é central na sua vida, interessando-se particularmente por teatro e dança. É cofundadora da Palimpsesto.


Resumo

Nas últimas décadas, com a criação e disseminação de diversas redes sociais (entre elas o Facebook, o Instagram, o Youtube e o Twitter), a forma de comunicar e interagir das pessoas alterou-se substancialmente, incluindo na esfera política. Neste ensaio, procura-se analisar a vertente online da campanha eleitoral do partido LIVRE para as eleições legislativas portuguesas de 2019 – ano em que este conseguiu ultrapassar a barreira dos 2% de votos e eleger uma deputada para o Parlamento – de modo a examinar como essa poderá ter contribuído para tal desfecho.

 
 

contexto eleitoral e partidário

Na sequência do Governo de coligação de centro-direita, composto pelo Partido Social-Democrata (PSD) e pelo Centro Democrático Social (CDS-PP), que dirigiu o país entre 2011 e 2015, realizaram-se eleições legislativas em Portugal a 4 de outubro de 2015, de modo a serem renovados os 230 assentos que compõem a Assembleia da República. Estas foram vencidas pela coligação incumbente, cujo resultado, contudo, foi insuficiente para garantir a maioria absoluta no Parlamento, tendo os partidos da oposição aprovado uma moção de rejeição que inviabilizou o governo de centro-direita. Ficou então a cargo do Partido Socialista (PS) – que, sob a direção de António Costa, havia conseguido o segundo melhor resultado nas eleições – a formação de governo. Foi a primeira vez, desde o início da Terceira República instaurada em 1974, que o partido ou coligação vencedora das eleições não liderou o país. Assim, com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), do Partido Comunista Português (PCP) e do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), o PS formou o XXI Governo, tendo assinado acordos bilaterais com cada uma dessas forças políticas para garantir a estabilidade do poder. Por ser um Governo minoritário dependente de partidos que, até então, jamais haviam viabilizado um governo (e que não pertenciam, consequentemente, ao chamado «arco da governação»), o ex-Vice-Primeiro-Ministro apelidou-o de «geringonça» (Portas 2015), termo que foi adotado desde então.

As eleições legislativas de 2015 trouxeram uma outra surpresa ao cenário parlamentar: o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) conseguiu eleger o seu líder, André Silva, e tornou-se o primeiro novo partido a eleger um deputado desde a entrada do BE na Assembleia da República 16 anos antes, em 1999. Desde o início do século que o Parlamento era composto pelas mesmas seis forças partidárias, pelo que este feito terá contribuído para uma revalorização dos pequenos partidos, ao provar que o voto nas forças políticas sem assento parlamentar pode efetivamente ter expressão na composição da Assembleia da República. Esta aposta nos partidos de menor dimensão, em detrimento dos partidos tradicionais – cujos votos somados atingiram, em 2015, um mínimo histórico desde 1985 (De Giorgi & Santana-Pereira 2016, 452) –, anunciou o crescimento de uma corrente antissistema também robustecida pelo aumento da abstenção eleitoral. Efetivamente, desde 2009 que o “partido da abstenção” é o mais votado em termos percentuais (Gráfico 1; SGMAI).

 
Gráfico 1 – Evolução da votação, em percentagem, nas eleições legislativas portuguesas, desde 1975 a 2015 (dados: SGMAI).

Gráfico 1 – Evolução da votação, em percentagem, nas eleições legislativas portuguesas, desde 1975 a 2015 (dados: SGMAI).

 

Tendo em conta este contexto, realizaram-se em Portugal, a 6 de outubro de 2019, novas eleições legislativas, para as quais concorreram 21 forças políticas (Tabela 1). Entre elas encontrou-se o partido LIVRE, fundado em 2013 sob os princípios de universalismo, liberdade, igualdade, socialismo, solidariedade, ecologia e europeísmo que, segundo o partido, o situam «no meio da esquerda» (LIVRE 2013). O partido já havia concorrido às eleições legislativas de 2015, nas quais contara com 39.340 votos (0,73%), resultado insuficiente para eleger um deputado. Nessa altura, fora Rui Tavares o cabeça-de-lista pelo círculo de Lisboa, político que havia sido eleito eurodeputado em 2009, integrado como independente na lista do BE. Já em 2019, a cabeça-de-lista por Lisboa foi Joacine Katar Moreira, historiadora luso-guineense que fez campanha ao lado do seu antecessor, ainda dirigente partidário.

 
Tabela 1 – Partidos concorrentes às eleições legislativas de 2019, respetivo posicionamento ideológico e variação do número de deputados eleitos entre 2015 e 2019.

Tabela 1 – Partidos concorrentes às eleições legislativas de 2019, respetivo posicionamento ideológico e variação do número de deputados eleitos entre 2015 e 2019.

 

A nível interno, essa ex-associação de Rui Tavares ao BE – que no espectro ideológico se aproxima do LIVRE – constituiu uma das fraquezas da campanha eleitoral de 2019, na medida em que dificultou a saliência do partido, ao tornar ambíguas as diferenças políticas entre ambos. A abordagem da nova cabeça-de-lista, cuja campanha, globalmente, se aproximou do registo da política identitária, também se traduziu numa desvantagem interna que limitou a extensão de influência da campanha. A estes fatores acresceu a gaguez notória da candidata, que prejudicou a sua comunicação e a tornou alvo de escárnio. Esta característica, contudo, teve um efeito ambivalente, pois inspirou a empatia de uma parte do eleitorado e provocou uma grande mediatização de Katar Moreira nos órgãos de comunicação social portugueses, de cuja publicidade o partido usufruiu. Ao mesmo tempo, a sua capacidade de representação de minorias (comunidade negra e de gagos) foi uma vantagem para o partido, pois permitiu catapultá-lo para um lugar de proximidade com o eleitorado, conseguido através da representatividade e lugar de fala que Katar Moreira trouxe para a esfera política. Entre as forças internas favoráveis ao LIVRE são ainda de realçar os seus valores europeístas, que o destacaram no panorama da esquerda portuguesa (maioritariamente eurocética), patente no desempenho eleitoral consistente que obteve nas recentes eleições europeias – entre os partidos que não elegeram, foi o partido com mais votos em 2014 e o segundo partido com mais votos em 2019.

A nível externo, uma das principais ameaças a comprometer os objetivos eleitorais do LIVRE foi a aproximação do BE às suas medidas programáticas, particularmente a ênfase que este deu à causa ambientalista, que até então diferenciava o LIVRE. Num mesmo sentido, o recente crescimento do PAN também contribuiu para o preenchimento do espaço político ecologista, impedindo uma maior proeminência do LIVRE neste âmbito. Por outro lado, a pequena dimensão do partido e o facto de não estar representado em qualquer órgão de poder no país entravou a difusão da sua mensagem. Também os insultos discriminatórios de que a principal candidata foi alvo denegriram a sua imagem, e revelaram que a sua identificação minoritária se traduziu numa certa antagonia por parte dos eleitores. Por fim, o crescimento de movimentos de extrema-direita a nível (inter)nacional constituiu outro obstáculo para o LIVRE, reduzindo as hipóteses de obter um lugar no Parlamento.

 
Figura 1 – Joacine Katar Moreira e Rui Tavares, representantes do LIVRE.

Figura 1 – Joacine Katar Moreira e Rui Tavares, representantes do LIVRE.

 

A presença de movimentos de extrema-direita em Portugal, nomeadamente com o surgimento de um novo partido político – o CHEGA –, também poderá, contudo, ter proporcionado uma oportunidade para o LIVRE, pois incentivou o voto neste partido para impedir a entrada daquele na Assembleia da República. Outra vantagem externa deveu-se ao sucesso da anterior legislatura, apoiada pelas forças da esquerda parlamentar, que eram previamente consideradas inerentemente opositoras e, como tal, incapazes de apoiar qualquer Governo, ideia que foi desestigmatizada com a Geringonça. A situação social e económica do país, no geral, proporcionou ainda um ambiente benéfico para as propostas do LIVRE: a preocupação crescente com a causa ecológica deu credibilidade ao Novo Pacto Verde lançado pelo partido; o estado da economia favoreceu o acolhimento de medidas do LIVRE como o aumento do salário mínimo nacional para 900€ e a redução do horário de trabalho semanal para 30 horas; o agravamento de situações precárias a nível laboral, de violência de género e da crise dos refugiados deu força às reivindicações de solidariedade e tolerância defendidas pelo partido; a crise da habitação e a degradação dos serviços públicos, como o SNS, incentivaram o aumento de investimento estatal preconizado pelo LIVRE. Por todas estas razões, aliadas à valorização dos pequenos partidos iniciada na anterior legislatura, o ambiente externo ao partido foi-lhe maioritariamente favorável.

 

a campanha política online

Perante este contexto político, iniciou-se a 22 de setembro de 2019 o período eleitoral que antecedeu as eleições legislativas. Na análise que realizámos da campanha do LIVRE, circunscrevemo-nos à segunda semana desse período, compreendida entre 29 de setembro e 4 de outubro (o dia 5, véspera das eleições, foi consagrado ao período de reflexão, momento previsto na lei portuguesa durante o qual é interdita a campanha política sob qualquer formato). Durante estes seis dias prévios ao ato eleitoral, o LIVRE esteve em campanha ativa, nomeadamente nas redes sociais em que possui perfil oficial: Facebook, Twitter e Instagram. 

A nossa análise enfoca as comunicações publicadas nas páginas do partido nestas três plataformas, uma vez que, na campanha eleitoral, a disputa por visibilidade faz com que os representantes políticos procurem influenciar, de todas as formas possíveis, os modos de cobertura mediática. Ora, as redes sociais permitem aos partidos políticos «um contacto mais direto com o eleitorado, evitando a intermediação dos média tradicionais que (…) adotam critérios próprios de noticiabilidade e de oferta de visibilidade» (Marques, Silva & Matos 2011, 347). A tendência para a descentralização da transmissão de informação, a necessidade de maximizar a visibilidade da mensagem política e o aumento progressivo do uso dos média digitais pela população leva então os partidos políticos a adquirir os seus próprios veículos de comunicação, numa tentativa de aproximação ao eleitorado e de proliferação das possibilidades de captação de votos. Em Portugal, segundo um estudo de 2015 da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), 67% da população acede à internet, e entre os cibernautas 88% utiliza as redes sociais (ERC 2015, 16-17). Neste sentido, o LIVRE, sendo um partido recente e sem assento parlamentar, aproveitou esta conjuntura para construir uma campanha eleitoral online

Durante o período de campanha em questão, o partido apresentava um total de 42.993 seguidores nas redes sociais. No Facebook contava com 23.524 seguidores, no Twitter 13.900 e no Instagram 5.569. Ao longo dos seis dias de campanha, fez 202 publicações nestas plataformas digitais (Tabela 2), relativas: 

  1. à divulgação e promoção de eventos partidários (Tabela 5);

  2. à divulgação do programa político (Tabela 6);

  3. à divulgação de exposição mediática (na televisão, jornais, rádio, etc.) (Tabela 7); 

  4. à promoção dos candidatos (Tabela 8);

  5. à transmissão de comunicados pontuais (Tabela 9);

  6. ao incentivo ao voto no partido (Tabela 10);

  7. e à divulgação de apoio dos cidadãos (Tabela 11).  

Tabela 2 – Tipologia de publicações efetuadas nas três redes sociais do LIVRE.

Tabela 2 – Tipologia de publicações efetuadas nas três redes sociais do LIVRE.

A exposição mediática do partido foi a temática mais promovida, com um total de 61 publicações dedicadas a tal, e a divulgação de apoio dos cidadãos foi a segunda mais frequente, contando com 40 publicações. A aposta nestes dois tipos de conteúdo revela a intenção de dar visibilidade à popularidade do LIVRE e legitimá-lo enquanto partido representativo e próximo dos portugueses.  

No que respeita cada rede social, o Facebook somou 44 publicações, com um maior foco na promoção dos candidatos (12 instâncias), seguindo-se a divulgação de exposição mediática e a divulgação do programa político, ambas publicitadas com a mesma frequência (11 instâncias). Já no Twitter, que apresentou 155 publicações, a promoção de exposição mediática foi o tema mais abordado (50 instâncias), seguindo-se a divulgação de apoio dos cidadãos ao partido (40 instâncias). Esta plataforma caracterizou-se ainda pela quantidade de conteúdo re-partilhado, com 67 publicações (43%) a corresponderem à exposição de comentários de outros utilizadores (sendo que 28 desses retweets provieram de membros do partido). No Instagram, a plataforma menos utilizada, as únicas 3 publicações corresponderam a fotografias de promoção e divulgação de eventos. 

Em termos diacrónicos (Tabela 3), os últimos três dias de campanha caracterizaram-se por um maior número de partilhas diárias totais: 47, 56 e 46, respetivamente, comparativamente a 17, 23 e 13 nos primeiros três dias, o que evidencia um esforço final para captar votos.

Tabela 3 – Publicações do LIVRE nas redes sociais, por dia, entre 29 de setembro e 4 de outubro.

Tabela 3 – Publicações do LIVRE nas redes sociais, por dia, entre 29 de setembro e 4 de outubro.

No que diz respeito à reação dos utilizadores às publicações, os conteúdos do Twitter raramente atingiram os valores conseguidos no Facebook, o que aponta para uma maior importância desta última plataforma e um papel mais secundário do Twitter na campanha eleitoral. Isto é dizer que, apesar de o partido ter criado e partilhado mais conteúdos no Twitter, esses conteúdos chegaram a mais pessoas e obtiveram mais atenção no Facebook, discrepância que revela uma fraca adequação da criação de conteúdos aos comportamentos dos seguidores em cada rede. Exemplo paradigmático desta dinâmica é a nota de pesar pelo falecimento de Freitas do Amaral, que alcançou 22 vezes mais gostos no Facebook do que no Twitter, 18 vezes mais partilhas e 19 vezes mais comentários (Tabela 8).

As 10 publicações mais bem-sucedidas a nível de gostos (Tabela 12), partilhas (Tabela 13) e comentários (Tabela 14) foram maioritariamente do Facebook (67%). Nesta rede social, o tema que mais se destacou no que respeita os gostos foi a divulgação de exposição mediática, o que está em consonância com a maior aposta do partido nesse tipo de conteúdo. Já o que alcançou em média mais partilhas e comentários foi a divulgação do programa político. O Twitter representou os restantes 33% das publicações com melhor resposta, e nele verificou-se um privilegiamento do incentivo ao voto tanto ao nível dos gostos, como das partilhas e comentários. De resto, as publicações com melhor resposta em cada um dos três casos são maioritariamente repetentes (87% integram dois deles). 

Entre as 10 publicações com mais gostos, partilhas e comentários, metade delas são sempre, em cada categoria, protagonizadas pela candidata Joacine Katar Moreira, tendência que evidencia uma clara personalização da campanha política. De facto, cada vez mais os fatores de curto prazo se mostram determinantes no comportamento eleitoral, sendo a imagem dos políticos um aspeto decisivo para a angariação ou repudiação de votos. Esta propensão leva o cientista político Martin Wattenberg a designar a contemporaneidade como a «era da política centrada nos candidatos» (Wattenberg 1991), era em que «as características individuais dos políticos são avaliadas, as suas personalidades analisadas e a popularidade dos mesmos junto do eleitorado é frequentemente medida» (Ferreira da Silva 2014, 470). «Os partidos deixam de ser, portanto, os atores centrais do processo eleitoral – dando espaço aos candidatos e aos personagens que os mesmos incorporam para buscar identificação com o eleitorado» (Leal & Rossini 2012, 45). Assim, a ideologia partidária passa para segundo plano e a figura do candidato ganha destaque, dinâmica que se verificou na campanha do LIVRE, particularmente no sucesso dos vídeos encabeçados por Joacine Katar Moreira, que reforçaram o mediatismo que a candidata já possuía nos média tradicionais.

 

Vídeo de campanha do LIVRE protagonizado pela cabeça-de-lista no círculo de Lisboa, Joacine Katar Moreira.

 

No seu uso do Twitter, o LIVRE criou ainda hashtags que permitissem aos cibernautas gerar discussão em torno do partido. Contudo, apesar de serem empregues dezenas de vezes na página do partido e utilizadas por alguns militantes nas suas contas pessoais, as hashtags tiveram muito pouco acolhimento pelos utilizadores em geral. Estão em causa quatro: #VotaLIVRE, que no período em análise foi empregue apenas 8 vezes por utilizadores não filiados ao partido; #PontapéNoEstaminé, empregue 6 vezes; #SemPrecedente, utilizada 2 vezes; e #LIVRE2019 também usada 2 vezes. Dados estes resultados, será seguro dizer que este mecanismo de aproximação aos eleitores foi um fracasso, visto que as hashtags não foram além do pequeno círculo de utilizadores já próximos do LIVRE.

 

notas finais

A campanha eleitoral realizada nas redes sociais do LIVRE e a sua centralização em torno de Joacine Katar Moreira contribuíram para que o partido, e mais particularmente a sua principal representante, se tornassem figuras proeminentes nestas eleições. A 6 de outubro de 2019, o LIVRE conseguiu angariar 57.172 votos (1.09%), mais 17.832 que nas eleições legislativas anteriores, garantindo um lugar na Assembleia da República (Tabela 4). Foi precisamente no círculo de Lisboa, encabeçado por Katar Moreira, que o partido conseguiu ultrapassar a barreira dos 2% e eleger.

 
Tabela 4 – Resultados eleitorais do LIVRE nas eleições legislativas de 2019, por círculo. Assinalados a vermelho estão os piores resultados nominais e percentuais do partido; a verde os melhores (dados: SGMAI).

Tabela 4 – Resultados eleitorais do LIVRE nas eleições legislativas de 2019, por círculo. Assinalados a vermelho estão os piores resultados nominais e percentuais do partido; a verde os melhores (dados: SGMAI).

 

Contudo, a campanha que o partido elaborou nas redes sociais não revelou, como se tornou patente nesta análise, um forte envolvimento dos eleitores, pelo que, mais do que uma equalização de forças políticas, constatou-se antes uma reprodução do status quo mediático no ambiente digital. Em parte, tal deveu-se à falta de profissionalização da campanha eleitoral online, como evidenciado pela dispersão do LIVRE por diversas redes sociais sem que, contudo, todas elas recebessem atenção regular, pela não adequação dos conteúdos divulgados à respetiva plataforma e, ainda, pela fraca adesão dos seguidores a iniciativas do partido, como o uso de hashtags.

Pese embora isso, a campanha online do LIVRE apontou para a tendência geral da estratégia eleitoral do partido: a personalização e a política identitária, ambas dependentes da figura de Joacine Katar Moreira. Tal teve o resultado pretendido no círculo de Lisboa, em que se concentraram cerca de 40% dos votos, mas prejudicou a visibilidade do partido no resto do país. Neste sentido, é curiosa a consonância entre a resposta dos utilizadores a conteúdos dirigidos a localidades específicas e o resultado conseguido nesses mesmos círculos: foi na Madeira e em Bragança que o LIVRE obteve os seus piores resultados, e as publicações referentes a essas localidades foram das que obtiveram menos gostos, partilhas e comentários (Tabelas 6 e 7). 

Será relevante verificar se, em eleições vindouras, as campanhas políticas em Portugal serão influenciadas por estas tendências e se o partido LIVRE, em especial, manterá ou alterará a sua estratégia.

 

anexos – tabelas

 

Para citar este ensaio:

Alcobia, Guilherme F. & Maria Castanheira. 2020. “Legislativas 2019: A Campanha Política do LIVRE nas Redes Sociais.” Palimpsesto. www.palimpsesto.online/ensaios/legislativas-2019-a-campanha-politica-do-livre-nas-redes-sociais.

 

referências ↓

De Giorgi, Elisabetta & José Santana-Pereira. 2016. “The 2015 Portuguese Legislative Election: Widening the Coalitional Space and Bringing the Extreme Left.” South European Society and Politics 21 (4): 451-468. https://doi.org/10.1080/13608746.2016.1181862.

ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). 2015. Públicos e Consumos de Média. O Consumo de Notícias e as Plataformas Digitais em Portugal e em Mais Dez Países. https://www.erc.pt/pt/estudos-e-publicacoes/consumos-de-media/estudo-publicos-e-consumos-de-media.

Leal, Paulo Roberto Figueira & Patrícia Rossini. 2012. “As Campanhas Eleitorais no Contexto da Política Personalizada.” In Comunicação Política e Eleitoral no Brasil: Perspectivas e Limitações no Dinamismo Político, organizado por Adolpho Carlos Françoso Queiroz, Paulo Sérgio Tomaziello & Roberto Gondo Macedo, 45-63. São Paulo: Politicom.

LIVRE. 2013. “Declaração de Princípios.” 16 novembro de 2013. https://partidolivre.pt/declaracao-principios-161113.

Marques, Francisco Paulo Jamil Almeida, Fernando Wisse Oliveira Silva & Nina Ribeiro Matos. 2011. “Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Serra no Twitter.” Contemporânea – Revista de Comunicação e Cultura 9 (3), 344-369. https://portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/5663/0

Portas, Paulo. 2015. “Intervenção do Vice-Primeiro-Ministro no debate do Programa do Governo.” 10 de novembro de 2015. https://www.youtube.com/watch?v=835BF1mIhYY.

SGMAI (Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna). “Resultados das Eleições Legislativas.” https://www.eleicoes.mai.gov.pt/.

Silva, Frederico Ferreira da. 2014. “Líderes Políticos e Comportamento Eleitoral: Rumo a uma Personalização da Política?.” Análise Social, 211, XLIX (2º), 469-482. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732014000200010

Wattenberg, Martin. 1991. The Rise of Candidate-Centered Politics – Presidential Elections of the 1980s. Cambridge: Harvard University Press.

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